domingo, 3 de abril de 2011

Pe. António Pinto da Silva




Ele era o tio de minha mãe.

Foi ele o assistente eclesiástico do casamento de meus pais lá na Ilha da Madeira no ano de 1940.

E como meus pais eram pobres e viajariam como imigrantes no dia seguinte sem nenhum centavo, ele conseguiu dinheiro para que eles, recém casados, pudessem comer alguma coisa no navio que os traria para o Brasil....

Aqui cabe o trecho do verso O Mar Portugues de  Fernando Pessoa

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!" 
Penso que as orações de minha vó paterna e as de meu tio avo padre fizeram eu sentir o chamado para o sacerdócio, aqui no Brasil...
Pe António Pinto da Silva era natural da freguesia de Câmara de Lobos, Ilha da Madeira, Portugal, onde nasceu a 1 de Agosto de 1882.

Ingressou no Seminário Diocesano a 15 de Outubro de 1901, recebeu Ordens Menores, a 4 de Outubro de 1908, Ordens de Subdiácono a 1 de Janeiro de 1909, de Diácono a 2 de Novembro de 1909 e Presbítero a 25 de Julho de 1910, tendo celebrado a sua primeira missa a 7 de Agosto de 1910.

Foi nomeado pároco do Curral das Freiras a 16 de Julho de 1912, Pároco de São Vicente a 16 de Julho de 1914, Cura de Câmara de Lobos a 15 de Novembro de 1921, Pároco de São Vicente, pela segunda vez, a 28 de Agosto de 1928 e Pároco de Câmara de Lobos a 1 de Novembro de 1936.

Faleceu a 6 de Janeiro de 1962.

Cruzeiro da Independencia


Também conhecido por cruzeiro do Pico da Torre. Está implantado no cimo do Pico da Torre, na freguesia de Câmara de Lobos. O lançamento da primeira pedra teve lugar no dia 28 de Maio de 1941, tendo a sua inauguração ocorrido no dia 14 de Setembro do mesmo ano [1], [2].

O pico da Torre está actualmente dotado de um cruzeiro da independência, símbolo das comemorações dos centenários, levados a efeito pelo Dr. Oliveira Salazar [3]. O lançamento da primeira pedra para a sua construção, bem como de uma caixa metálica contendo várias moedas de 10$00 e de 5 centavos e uma acta alusiva ao acto, teve lugar no dia 28 de Maio de 1941, por ocasião do 15º aniversário da Revolução Nacional.

De acordo com a acta de lançamento da primeira pedra do cruzeiro do Pico da Torre, aos vinte e oito dias do mês de Maio do ano de mil novecentos e quarenta e um, aniversário do XV ano da Revolução Nacional, neste sítio do Pico da Torre de Câmara de Lobos, compareceram o presidente da Câmara, professor Ângelo de Menezes Marques e os vereadores Srs. João Ernesto Pereira, Francisco Nunes Pereira de Barros Júnior e João Ricardo Ferreira César, Reverendo Vigário da freguesia, padre António Pinto da Silva e outras autoridades convidadas a assistir ao lançamento da primeira pedra para o levantamento de um cruzeiro, símbolo das Comemorações Centenárias, levadas a efeito pelo douto governo nacional da presidência do estadista Oliveira Salazar, que muito tem dignificado a Nação Portuguesa pelas medidas e providências tomadas dentro do patriotismo nacional. Este monumento representa para todos os munícipes a fé cristã, que há oito séculos se gravou no coração dos portugueses e perpetuará o reconhecimento para com Deus, que se dignou emprestar à governação um filho desta Pátria Portuguesa tão fidedigno que nos desvanece como irmãos. Esta acta vai assinada pela Comissão Administrativa da Câmara e por todos aqueles que estão presentes. Pico da Torre de Câmara de Lobos, 28 de Maio de 1941 [4], [5].

Ainda que sejam por demais evidentes as vertentes políticas deste empreendimento, a iniciativa da sua construção partiu da Acção Católica de Câmara de Lobos e fundamentalmente do seu assistente, o Pe. António Pinto da Silva. Contudo, foi a expensas da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, na altura presidida pelo Prof. Angelo de Menezes Marques que a obra se realizou.

Construído em pedra de cantaria, o cruzeiro possui na sua base  a inscrição: "Fundação-1140/Restauração-1640/Ano Áureo-1940/Mandado erigir pela Câmara Municipal de Câmara de Lobos" e foi solenemente inaugurado e benzido no dia 14 de Setembro de 1941. Do acto, presidido por Sua Exa. Reverendíssima, o Bispo do Funchal e à qual assistiram as mais altas individualidades políticas e religiosas locais e muito público, fez parte uma missa campal. As Bandas Municipal de Câmara de Lobos e Recreio Camponês, bem como elementos da Mocidade Portuguesa das escolas locais, providos de clarins e tambores tiveram a seu cargo a recepção das individualidades convidadas [6].

 Para compreendermos melhor as razões que levaram à construção, por todo o país, importa ler um pequeno texto publicado em Março de 1940 num órgão de informação regional, intitulado de "Um Cruzeiro da Independência na Madeira":

Em Setembro de 1938, ao microfone da Emissora Nacional, um dos mais altos espíritos de poeta da nova geração — Moreira das Neves — lançava a iniciativa da construção do Cruzeiro da Independência, como perpetuação das festas Centenárias

Esta ideia magnífica, dum largo alcance patriótico, desde logo encontrou eco na imprensa portuguesa, que a ela se referiu em ternos da maior simpatia.

As Emissoras Nacional e Renascença têm, por sua vez, feito largas referências a este respeito, realizando interessantes palestras de propaganda.

Vemos com efeito, que a ideia caiu em bom terreno, pois, são já numerosas as localidades no continente onde vão erguer-se os cruzeiros da Independência – que comemorarão as grandes festas cujo início terá lugar dentro de 2 meses.

A ideia é, francamente, linda, e contém um pensamento altíssimo: o de relembrar uma data gloriosa e de maneira que possa a sua recordação desafiar os séculos.

A comemoração do duplo centenário ficará assim relembrada em pedra, a falar aos vindouros, duma data que nos recorda a nossa grandeza e soberania, bem firmes e sólidas ao cabo de oito séculos de existência.

Se é preciso que a ideia das Festas Centenárias se alargue e estenda a todos os recantos de Portugal, nós vemos, realmente, nesta simpática iniciativa, um dos meios mais práticos e directos para que a gloriosa data do nosso Oitavo Centenário seja melhor compreendida e mais profundamente vivida pelos que não possam, possivelmente, deslocar-se aos centros onde essas comemorações tomarão maior vulto e entusiasmo.

O Cruzeiro da Independência unirá assim, neste momento histórico, todos os corações portugueses num só pensamento e numa só vibração de alma.

Ele recordará pelos tempos fora um acontecimento de grande vulto e suma importância, e ao mesmo tempo constituirá um valioso padrão da nossa. Fé, couraça espiritual que foi sempre connosco através das nossas conquistas de além-mar.

Símbolo de sacrifício e de redenção, a Cruz de pedra, tosca ou lavrada, de granito ou de mármore perpetuará a grandeza das nossas causas defendidas em nome de Deus e da Pátria há-de lembrar-nos Ourique, Val-de-Vez e Aljubarrota; há-de levar-nos ao coração a fé intemerata e o heroísmo de Afonso Henriques e de Nuno A’lvares.

A inscrição nela gravada recordar-nos-á a fundação e a restauração de Portugal.

A Cruz há-de falar-nos da nossa crença, largas vezes manifestada através da história, em tantas emergências difíceis.

Pela Cruz e com a Cruz pelejamos em inúmeras batalhas que nos deram fama e prestigio, e, por isso nenhum outro sinal mais belo e significativo poderíamos escolher para perpetuar nas nossas cidades, vilas e aldeias, a comemoração festiva de oito séculos de existência...

Vão lançar-se novos Cruzeiros por esse país fora, comemorando as Festas Centenárias, e, vem a propósito, nesta altura, perguntar o que faremos nós nesse sentido.

A Madeira vai festejar também, embora modestamente, as Festas do Duplo Centenário, e mal ficaria se não se pensasse na construção do Cruzeiro da Independência na nossa Ilha.

Por mais imponentes que, possivelmente, fossem essas festas, o tempo se encarregaria de fazer passar sobre elas o pó da distância e do esquecimento, e, pouco restaria de pé a recordar o Duplo Centenário.

A reportagem fotográfica e jornalística, o filme, etc. passariam depressa.

O monumento de pedra ficaria no entanto, a relembrar através dos tempos, esse acontecimento nacional de tão grande repercussão adentro e além fronteiras.

A Madeira parcela valiosa da Terra Portuguesa, deve erigir também um Cruzeiro da Independência — documento duma fé que fez heróis e santos, duma esperança viva nos destinos da Pátria nesta hora alta de verdadeira restauração nacional.

Mostremos que estamos com todos os portugueses neste momento histórico, em que a nossa querida Pátria comemora o 8.º Centenário da sua fundação e 0 4.º da sua Restauração [1].



[1]      Um Cruzeiro da Independência na Madeira". Diário de Notícias, 7 de Março de 1940.

[2]      VERÍSSIMO, Nelson. À Volta de Um Cruzeiro. Girão - Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, Vol.1, nº4, 1º semestre de 1990, 144-145.

[3]      VERíSSIMO, Nelson. À volta de um cruzeiro. Girão-Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº4, 1º semestre/1990:144-145.

[4]      O Jornal, 30 de Maio de 1941

[5]      FREITAS M. Pedro. Acta de Lançamento da primeira pedra do cruzeiro do pico da Torre. Girão-Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº5, 2º semestre/1990: 224.

[6]     FREITAS M. Pedro. Em Câmara de Lobos, inauguração do cruzeiro do pico da Torre. Girão-Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº3, 2º semestre/1989: 109. 

http://www.concelhodecamaradelobos.com/dicionario/cruzeiro_independencia.html